Cirurgia Refrativa
2 de setembro de 2019Adaptação de Lentes de Contato
As lentes de contato podem trazer grande benefícios ao usuário. Independência aos óculos, como naqueles que buscam maior conforto em atividades esportivas; que não gostam da estética dos óculos; que se incomodam com as armações na ponte nasal e naqueles que desejam usar óculos escuros sem gradação.
Mas as indicações de lentes de contato vão além dessas citadas, córneas irregulares, seja por ceratocone, alto astigmatismo, pós trauma, pós transplante, cicatriz, podem apresentar inclusive melhor qualidade visual com lentes de contato em comparação aos óculos.
Atualmente, temos à disposição uma série de materiais, curvaturas, regimes de uso e gradações de lentes de contato. A adaptação de lentes de contato pelo oftalmologista consiste em avaliação completa com anamnese, refração, biomicroscopia e topografia corneana para avaliar a lente melhor indicada para cada caso.
Em seguida, testa-se a lente nos olhos para avaliar sua interação com a córnea, sua centração, mobilidade, estabilidade e visão corrigida. Dividimos primariamente as lentes de contato em gelatinosas e rígidas gás permeáveis.
A) Lentes Gelatinosas
As lentes gelatinosas são feitas de hidrogel ou silicone-hidrogel, este último um material que permite maior oxigenação à córnea. É o tipo de lente mais utilizada, tendo uma gama extensa de indicações.
Existem lentes que corrigem somente grau esférico (miopia ou hipermetropia), lentes tóricas (que corrigem também astigmatismo) e lentes multifocais, destinadas à presbiopia (“vista cansada”).
Classificamos as lentes gelatinosas além do seu material e correção, quanto ao regime de uso: lentes de uso único são aquelas lentes descartadas diariamente; lentes de troca programada englobam lentes de descarte quinzenal e mensal; finalmente temos as lentes anuais. Independente das lentes utilizadas, deve-se respeitar seu regime de uso (tempo de descarte), usar para limpeza apenas soluções destinadas a seu cuidado e não dormir com as mesmas.
Riscos de uso inadequado englobam: hiperemia ocular, irritação ocular, infecção e cicatrizes. Deve-se atentar aos sinais de alerta: dor, hiperemia e embaçamento. Quando presentes, deve-se suspender o uso das lentes e procurar seu oftalmologista para avaliação.
Lentes Gelatinosas Tóricas – lentes gelatinosas capazes de corrigir não só graus esféricos (miopia e hipermetropia) como também graus cilíndricos (astigmatismo). O astigmatismo é traduzido por uma córnea em que cada meridiano tem um grau diferente.
Desse modo, as lentes corretivas também devem ter graus diferente em cada eixo para correção completa adequada. Esse eixo da lente de contato com o grau a mais do astigmatismo deve estar alinhado com o eixo a ser corrigido na córnea, caso contrário a visão não fica adequada.
Para garantir esse alinhamento, as lentes de contato gelatinosas tóricas, apresentam mecanismos para estabilizar na posição esperada, seja por prisma de lastro na região inferior da lente ou por áreas mais espessadas na fenda palpebral.
O oftalmologista é capaz, no exame à lâmpada de fenda, aparelho presente no consultório, avaliar justamente se essa posição está bem alinhada ou se há alguma compensação a ser feita para melhor correção. Quanto aos regimes de uso, temos disponíveis lentes de descarte diário, quinzenal, mensal e anual.
Há pouco tempo, havia uma restrição das lentes descartáveis de correção até -2,75 de astigmatismo, sendo apenas as lentes anuais capazes de corrigir graus mais elevados. No entanto, atualmente, há lentes de descarte mensal com correções até -5,75 dioptrias cilíndricas, aumentando assim, nossa gama de possibilidades terapêuticas.
Lentes Gelatinosas Multifocais – lentes gelatinosas destinadas para a correção da presbiopia. A presbiopia é a famosa “vista cansada” que costuma causar sintomas a partir dos 40 anos de idade.
O músculo ciliar presente dentro dos nossos olhos e responsável por mudar o formato do cristalino ajustando foco perto x longe, progressivamente vai perdendo a sua capacidade de acomodação. Com isso, enfrentamos a dificuldade para atividades de perto e acabamos precisando de graus diferentes para longa e curta distância para compensar essa perda acomodativa interna.
Muitos conhecem os óculos multifocais para tratamento da presbiopia, porém a maioria desconhece que também dispomos de lentes de contato para sua correção. O desenho das lentes dos óculos multifocais difere do desenho das lentes de contato multifocais.
Enquanto nos óculos multifocais, a depender da posição dos nossos olhos, enxergamos pela área destinada a visão de longe (parte superior dos óculos) ou perto (parte inferior dos óculos); nas lentes de contato multifocais, seu desenho asférico garante visão para perto na região central progressivamente para longe em direção à periferia.
Com isso, acaba-se simultaneamente tendo exposto graus para perto e longe. Se por um lado, essa característica não exige posição de cabeça para otimizar a correção visual como acontece nos óculos multifocais, por outro deve-se saber que não temos a mesma qualidade visual perto e longe garantida nos óculos.
As lentes multifocais tem objetivo de dar independência dos óculos em atividades corriqueiras, como ir a eventos sociais, dirigir, ir ao mercado. Em atividades para perto mais prolongadas, como leitura de livros, pode ser necessário o uso de óculos para perto complementares.
Quanto aos regimes de uso, temos disponíveis lentes de descarte diário, quinzenal e mensal. No Brasil, as lentes multifocais disponíveis não corrigem astigmatismo.
Lentes de Descarte Diário – lentes gelatinosas de uso único. No final do dia, a lente é descartada e, no próximo uso, uma nova lente é aberta. Existem lentes de descarte diário: esféricas (correção miopia ou hipermetropia), tóricas (correção também do astigmatismo) e multifocais (correção de presbiopia).
Especialmente para aquelas pessoas que usam esporadicamente as lentes de contato: atividade esportiva até 2xsemana ou eventos sociais em finais de semana por exemplo, esse regime de uso de lente é muito indicado. Não há necessidade de guardar as lentes no estojo e não há necessidade de limpeza com soluções multiuso diariamente.
Por esse motivo, adolescentes são outro grupo em que essas lentes são preferíveis, além de pacientes mais sensíveis e alérgicos aos produtos de limpeza das lentes.
B) Lentes Rígidas Gás Permeáveis
As lentes rígidas são feitas a partir de materiais gás permeáveis, permitindo a passagem do oxigênio, essencial para a saúde ocular. Os materiais das lentes estão em constante evolução, com objetivo de aumentar permeabilidade ao oxigênio, aumentar resistência e conforto.
As lentes rígidas podem ser usadas para correções de erros refrativos comuns (miopia, astigmatismo e hipermetropia), mas são especialmente adaptados em córneas irregulares. Dentre as córneas irregulares, sobressai pacientes com ceratocone (saiba mais no setor em que falamos mais sobre essa doença), degeneração marginal pelúcida, ectasia secundária pós cirurgia refrativa e córneas operadas pós: ceratotomia radial (RK), anel intraestromal ou transplante de córnea.
Temos à disposição uma variedade de desenhos, ou seja formatos, de lentes rígidas gás permeáveis. Durante a adaptação, o oftalmologista procura o desenho e curvatura de lente que melhor se “encaixa” à córnea do paciente.
Exame de topografia de córnea indicará o relevo da córnea, sugerindo o melhor desenho a ser adaptado. A lente de contato rígida promove uma regularização dessa córnea e com isso, uma melhora da visão corrigida e maior nitidez das imagens que muitas vezes não consegue ser obtida nesses olhos somente com emprego de óculos.
Frequentemente, múltiplas lentes são testadas pelo oftalmologista, até se definir os parâmetros mais adequados em termo de alinhamento, conforto e estabilidade.
O teste de lente de contato rígida é muito interessante, pois o paciente já consegue ver a visão que alcançará com suas lentes definitivas e o conforto que as lentes terão. De todo modo, em novos usuários, o processo de adaptação com as lentes rígidas costuma levar de 2 a 4 semanas.
Nesse período, recomenda-se uso progressivo das lentes a fim de facilitar a a adaptação. Uma vez definido os parâmetros ideais, a lente definitiva é solicitada e na sua retirada reavalia-se se a lente está adequada, com boa interação com a córnea e com boa visão.
As lentes rígidas devem ser manuseadas com mãos limpas e sua limpeza deve ser realizada apenas com soluções multiuso destinadas para esse tipo de lente. Enquanto não estiverem sendo usadas, devem ser mantidas em estojo apropriado com solução multiuso que deve ser trocado diariamente.
O estojo, por sua vez, deve ser trocado no mínimo a cada 3 meses. Não se recomenda dormir com as lentes. Importante respeitar os cuidados indicados pelo oftalmologista para minimizar os riscos de complicações como hiperemia, irritação e infecção ocular.
Na presença de sinais de alerta: dor, hiperemia ou embaçamento visual, o uso das lentes de contato deve ser descontinuado e deve-se procurar um oftalmologista para avaliação.