Cirurgia Refrativa
2 de setembro de 2019Ceratocone
O ceratocone é uma doença que afeta a córnea, tornando-a mais abaulada e fina. A irregularidade corneana resultante pode levar a queixas de piora da visão mesmo com uso de óculos e distorção das imagens, sobretudo à noite.
Geralmente, acomete ambos os olhos, mas de forma assimétrica. O ceratocone inicia-se na segunda ou terceira década de vida e pode progredir até os 35 anos de idade. Fatores de risco para apresentar essa doença são: história familiar de ceratocone, alergia ocular e alto astigmatismo.
O diagnóstico é feito mediante exame oftalmológico completo e tomografia de córnea (Pentacam/Galilei), que evidencia as alterações na curvatura e espessura corneana. O tratamento visa melhorar a qualidade visual e evitar a progressão da doença.
Dentre os tratamentos, dispomos de: controle da alergia ocular com colírios, prescrição de óculos, adaptação de lentes de contato rígidas, implante de anel intraestromal, transplante de córnea e crosslinking corneano. O estágio do ceratocone e seu caráter progressivo ou não irá definir o melhor tratamento.
Tratamentos do Ceratocone
A) Lentes de Contato Rígidas e Esclerais
A adaptação de lentes de contato é uma excelente opção de tratamento para reabilitação visual nos pacientes com ceratocone. Por ser rígida, ela regulariza a superfície anterior do olho, permitindo melhor foco da imagem durante o seu uso.
Novos materiais e desenhos de lentes de contato estão continuamente sendo desenvolvidos, o que agrega no arsenal de irregularidades que podemos tratar com essas lentes, sem deixar de manter alta permeabilidade ao oxigênio, essencial para a saúde ocular.
O exame de topografia ou tomografia de córnea antes da adaptação guia a decisão para o melhor desenho e curvatura de lente de contato que se encaixa na córnea em questão. Múltiplos testes podem ser necessários até definir a melhor lente.
A fim de minimizar os riscos de complicações como desconforto, infecção e desenvolvimento de cicatriz, é essencial fazer a adaptação correta pelo oftalmologista com uma lente que respeite o desenho da córnea, fazer uso somente de soluções de limpeza destinadas para lentes rígidas e não dormir ou entrar em piscina com as lentes.
Fora esses cuidados, acompanhamento periódico também é aconselhável.
B) Anel Intraestromal
O implante de anel intrastromal é um procedimento cirúrgico em que 1 ou 2 segmentos de anéis de PMMA, material inerte ao olho, são colocados no interior da córnea. A função do anel é regularizar a córnea com ceratocone, reduzindo sua curvatura e diminuindo o astigmatismo irregular.
É indicado em pacientes que não alcançam boa visão com óculos e são intolerantes ao uso de lentes de contato rígidas. A cirurgia é realizada sob anestesia tópica, onde primeiramente, um túnel dentro da córnea é confeccionado pelo laser de femtossegundo, por onde, então, os segmentos são colocados.
A cirurgia é rápida e indolor. Trata-se de um procedimento menos invasivo do que o transplante de córnea, com a segurança de ser reversível, caso haja complicações mesmo que raras.
Após a cirurgia, espera-se melhora da visão sem correção e uma redução do grau dos óculos com melhora da visão corrigida também. Pode ser necessário o uso de óculos ou lentes de contato rígidas no pós-operatório.
C) Transplante de Córnea
O transplante de córnea consiste na substituição da córnea por uma doadora saudável. No caso do ceratocone, pode ser realizado um transplante de espessura total da córnea (transplante penetrante) ou somente da parte anterior da córnea, que é mais afetada pela doença (transplante lamelar anterior).
A decisão pela técnica depende do estágio do ceratocone. É indicado nos casos mais avançados de ceratocone ou que apresentem cicatriz central, situações essas em que o implante de anel intraestromal está contraindicado.
Trata-se de um procedimento mais invasivo, com risco de rejeição e que exige acompanhamento frequente em consultas e uso de colírios por ao menos um ano após o transplante. Após esse período, é frequente precisar fazer uso de óculos ou lentes de contato rígidas para melhor qualidade visual.
D) Crosslinking Corneado
Diferentemente das outras modalidades terapêuticas (lentes rígidas, anel intraestromal e transplante) que buscam a reabilitação visual, a função do crosslinking corneano é outra: parar a progressão do ceratocone.
O tratamento é feito sob anestesia tópica e consiste em 3 etapas: na primeira, desepiteliza-se a córnea, na segunda aplica-se um colírio fotossensibilizador chamado riboflavina que impregna a córnea; por fim, aplica-se radiação UVA permitindo o enrijecimento da córnea por meio do aumento da ligação covalentes entre as fibras de colágeno corneanas.
Terminado o procedimento, coloca-se uma lente de contato gelatinosa terapêutica que é retirada no retorno no consultório após 4 a 7 dias. O pós-operatório exige o uso de colírios antibióticos e antiinflamatórios.
Devido à desepitelização, desconforto é esperado nos primeiros 3 dias e para controle, prescritos analgésicos orais. O procedimento é indicado nos casos de ceratocone em progressão. Pode ser associado com implante de anel intraestromal que por sua vez tem a função de regularizar a córnea e melhorar a acuidade visual.